Comissão Pró-Ordem da APFISIO #2

2 Maio, 2018

A Fisioterapia é uma profissão de saúde que se baseia na evidência científica, seja através da produção de literatura ou pela prática informada nesta. A componente científica da profissão é factual e o seu contributo para a melhoria dos cuidados de saúde é fundamentado.

Anualmente, são publicados internacionalmente milhares de artigos científicos produzidos por fisioterapeutas, sendo Portugal um exemplo a nível Europeu. A profissão não se restringe, assim, ao âmbito da prática clínica, demonstrando um inegável valor na investigação e produção científica através do tecido académico presente no ensino superior em Portugal e no Mundo.

Uma pesquisa na base de dados electrónica PUBMED com recurso à combinação das palavras-chave “Physiotherapy” or “Physical Therapy” or “Physiotherapists” or “Physical Therapists”, termos pelos quais são denominados a Fisioterapia e os fisioterapeutas na língua inglesa, resultou em 294.024 artigos científicos. A existência de diversas revistas científicas indexadas e específicas da área científica de Fisioterapia, tais como a Physiotherapy, Journal of Physiotherapy, Physical Therapy, Physical Therapy in Sport, Physical Therapy and Rehabilitation, Musculoskeletal Science and Practice, European Journal of Physiotherapy, New Zealand Journal of Physiotherapy,  Indian Journal of Physical Therapy, International Journal of Physiotherapy, International Journal of Physiotherapy & Rehabilitation e International Journal of Physiotherapy & Research são manifesto desse mesmo contributo.

Apresentam-se, em seguida, exemplos que ilustram o reconhecimento científico internacional do corpo de saberes próprio da Fisioterapia:

Em Dor Cervical:

Fisioterapia é considerada um recurso em saúde de primeira linha na gestão da disfunção cervical aguda, sub-aguda e crónica, assumindo o seu papel fundamental neste âmbito, quer em termos clínicos, quer em termos de poupança e aumento da eficiência dos serviços de saúde.

(Fonte: Carroll LJ, Hogg-Johnson S, van der Velde G, Haldeman S, Holm LW, Carragee EJ, et al. Course and prognostic factors for neck pain in the general population: results of the Bone and Joint Decade 2000-2010 Task Force on Neck Pain and Its Associated Disorders. Spine (Phila Pa 1976) [Internet]. 2008;33(4 Suppl):S75-82)

Em Dor Lombar:

Numa investigação, com 851 pessoas, que avaliou o impacto da abordagem clínica em Fisioterapia estratificada por níveis de risco ao nível da dor lombar permitiu identificar uma redução média dos custos de £34/pessoa e o benefício social que deriva da redução de dias de trabalho perdidos por disfunção lombar e menor procura de serviços de saúde, correspondendo a poupanças na ordem das £675 quando comparado com o grupo de controlo num período de 12 meses de follow-up.

(Fonte: Hill J, D Whitehurst, Lewis M, Bryan S, Dunn K, Foster N, Konstantinou, Main C, Mason E, Somerville S, Sowden G, Vohora K, Hay E. (2011). A randomised controlled trial and economic evaluation of stratified primary care management for low back pain compared with current best practice: The STarT Back trial. The Lancet, 378 (9802), 1560 – 1571)

A referenciação precoce para Fisioterapia está associada à redução da probabilidade de prescrição avançada de exames de diagnóstico, de visitas médicas adicionais, de cirurgia, de administração de injeções e prescrição de opióides, quando comparada com referenciação atrasada para Fisioterapia, garantindo assim a diminuição dos custos para a dor lombar.

(Fonte: Fritz JM, Childs JD, Wainner RS, Flynn TW. Primary care referral of patients with low back pain to physical therapy: impact on future health care utilization and costs. Spine(Phila Pa 1976) [Internet]. 2012;37(25):2114–21.)

As NICE Guidelines defendem um modelo estratificado de intervenção, considerando a Fisioterapia como a parte essencial da intervenção envolvendo Educação, Terapia Manual e Exercício. Como se pode confirmar pela citação seguinte, a Fisioterapia é referida como uma profissão autónoma capaz de tomar decisões dentro do seu corpo de saberes e competências próprias, de acordo com a sua avaliação e integrado numa equipa multidisciplinar: «Exercise interventions are generally conducted in group or individually by a physiotherapist” “For manual therapy an appointment with a physiotherapist would be required”, “For electrotherapy interventions, an appointment with a physiotherapist would be required.”; “For self-management strategies typically take place in primary care and could be delivered by different healthcare professionals, including GPs, physiotherapists, occupational therapists and nurses».

(Fonte: NICE GUIDELINES. http://pathways.nice.org.uk/pathways/low-back-pain-and-sciatica Pathway last updated: 13 December 2016.)

A Fisioterapia é recomendada como melhor prática necessária antes, durante e após programas de Gestão de Dor, tendo sido classificada com o nível mais elevado de evidência.

(Fonte: British Pain Society. Guidelines for pain management programmes for adults: an evidence based review prepared on behalf of the British Pain Society. London: British Pain Society; 2013.)

Na Osteoartrite:

A Fisioterapia demonstra efetividade (estatística e clinicamente significativa), ao nível da intensidade da dor e incapacidade, semelhante ou superior às intervenções farmacológicas mais frequentes. É sugerida uma resposta adequada por fisioterapeutas, em colaboração com outros profissionais de saúde, em contexto de cuidados de saúde primários visando a promoção da autogestão da condição.

(Fonte: McAlindon TE, Bannuru RR, Sullivan MC, Arden NK, Berenbaum F, Bierma-Zeinstra SM, et al. OARSI guidelines for the non-surgical management of knee osteoarthritis. Osteoarthritis Cartilage [Internet]. 2014;22(3):363–88; Fernandes L, Hagen KB, Bijlsma JWJ, Andreassen O, Christensen P, Conaghan PG, et al. EULAR recommendations for the non-pharmacological core management of hip and knee osteoarthritis. Ann Rheum Dis. 2013;72(7):1125–35)

A intervenção em Fisioterapia permitiu reduzir o número de intervenções cirúrgicas como a colocação de prótese total do joelho e o recurso aos serviços de saúde e prescrição de terapias farmacológicas.

(Fonte: Lamb SE, Toye F, Barker KL. Chronic disease management programme in people with severe knee osteoarthritis: efficacy and moderators of response. Clin Rehabil. 2008;22(2):169–78)

Na Ligamentoplastia do Joelho:

A Fisioterapia é referida como abordagem de primeira linha em termos de abordagem conservadora.

(Fonte: Logerstedt DS, Snyder-Mackler L, Ritter RC, Axe MJ, Godges JJ. Knee Stability and Movement Coordination Impairments: Knee Ligament Sprain. J Orthop Sports Phys Ther. 2010;40(4):A1-A37; Meuffels DE, Poldervaart MT, Diercks Ron L. Guideline on anterior cruciate ligament injury. A multidisciplinary review by the Dutch Orthopaedic Association. Acta Orthopaedica 2012; 83 (4): 379–386; American Academy of Orthopaedic Surgeons. Consensus Statements to the Management of ACL Injuries: Clinical Practice Guideline from the AAOS, 2015.)

No Acidente Vascular Cerebral (AVC):

Existe Evidência Forte – Nível 1A, para uma prática intensiva durante a fase de reabilitação.

(Fonte: Veerbeek JM, van Wegen E, van Peppen R, van der Wees PJ, Hendriks E, et al. (2014) What Is the Evidence for Physical Therapy Poststroke? A Systematic Review and Meta-Analysis. PLoS ONE 9(2): e87987)

A reabilitação no contexto do AVC deve ser realizada em equipa multidisciplinar na qual a Fisioterapia é das profissões que deve dispor de mais recursos humanos.

(Fonte: Stroke Rehabilitation Long term rehabilitation after stroke Clinical Guideline – Methods, evidence and recommendations – NHS Trust UK)

A presença da Fisioterapia, em elevadas percentagens de recursos humanos nas equipas de reabilitação, promove melhores resultados funcionais e vantagem económica para os serviços de saúde.

(Fonte: Tummers J and Schrijvers A. Economic evidence on integrated care for stroke patients; a systematic review. International Journal of Integrated Care, 2012)

Em Lesões Vertebro-Medulares (LVM):

A presença da Fisioterapia em elevadas percentagens de recursos humanos, nas equipas de reabilitação, promove melhores resultados funcionais e vantagem económica para os serviços de saúde.

(Fonte: Intensive Exercise Programmes for Spinal-Cord-Injured Individuals Clinical Guideline for Standing Following SCI Spinal Cord Injury Centre Physiotherapy Lead Clinicians (2013); Spinal Cord Injury Centre Physiotherapy Lead Standards of proficiency (2007); Assurance Quality Standards for physiotherapy service delivery  Physiotherapists (2012) and Professional Values of Members’ Code and Behaviour (2011). The Health and Care Professions Council’s standards of proficiency for physiotherapists; Consortium for Spinal Cord Medicine (2008). Early Acute Management in Adults with  Spinal Cord Injury: A Clinical Practice Guideline for Health-Care Professionals. The Journal of Spinal Cord Medicine, 2008, Volume 31 number 4.)

Em Paralisia Cerebral (PC):

A Fisioterapia desempenha o papel preponderante no tratamento de crianças com PC.

(Fonte: Systematic review of interventions for children with cerebral palsy: state of the evidence.Dev Med Child Neurol. 2013 Oct;55(10):885-910.)

Em Reabilitação Respiratória:

Através da análise das várias guidelines defendidas pelas sociedades científicas internacionais, infere-se que os programas de reabilitação respiratória devem ser constituídos por equipas multidisciplinares, com inclusão de um médico/pneumologista e outros profissionais de saúde como fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e assistentes sociais, entre outros.

De salientar, ainda, a constante referência ao fisioterapeuta como o profissional especialista na prescrição e implementação de exercício físico, competência que não é aplicável ao enfermeiro independentemente da sua especialização em enfermagem.

(Fonte: Spruit, M. A., Singh, S. J., Garvey, C., ZuWallack, R., Nici, L., Rochester, C. Wouters, E. F. M. (2013). An Official American Thoracic Society/European Respiratory Society Statement: Key Concepts and Advances in Pulmonary Rehabilitation. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, 188(8), e13-e64. European Respiratory Society. (2013). Allied Respiratory Professionals. In G. Gibson, R. Loddenkemper, Y. Sibille & B. Lundbäck (Eds.), The European Lung White Book (pp. 382-391). Sheffield: European Respiratory Society. European Respiratory Society. (2013). Pulmonary rehabilitation. In G. Gibson, R. Loddenkemper, Y. Sibille & B. Lundbäck (Eds.), The European Lung White Book (pp. 340-347). Sheffield: European Respiratory Society. DD Marciniuk, D Brooks, S Butcher, et al; The Canadian Thoracic Society COPD Committee Expert Working Group. Optimizing pulmonary rehabilitation in chronic obstructive pulmonary disease – practical issues: A Canadian Thoracic Society Clinical Practice Guideline. Can Respir J 2010;17(4):159-168)

A European Respiratory Society vai mais longe, recomendando que os programas de reabilitação respiratória incluam pelo menos um fisioterapeuta, um terapeuta ocupacional, um psicólogo e um nutricionista. A média europeia é de dois profissionais de saúde por programa e cerca de 60% dos doentes são acompanhados por fisioterapeutas.

(Fonte: Gosselink R, et al. Physiotherapy for adult patients with critical illness: recommendations of the European Respiratory Society and European Society of Intensive Care Medicine Task Force on Physiotherapy for Critically Ill Patients. Intensive Care Med 2008; 34: 1188–1199)

Em Reabilitação Cardíaca:

As sociedades dos Países Baixos e do Reino Unido especificam que a programação e a supervisão do exercício são da responsabilidade de um fisioterapeuta ou de um membro do pessoal treinado na prescrição do exercício.

(Fonte: Price K, Gordon B, Bird S, Benson A. A review of guidelines for cardiac rehabilitation exercise programmes: Is there an international consensus? European Journal of Preventive Cardiology 2016, Vol. 23(16) 1715–1733)

Em Amputação:

Considera-se boa prática que a instrução e aconselhamento sobre a utilização segura de uma prótese sejam realizados pelo fisioterapeuta.

(Fonte: Evidence Based Clinical Guidelines for the Physiotherapy Management of Adults with Lower Limb Prostheses – Chartered Society of Physiotherapy (CSP), British Association of Physiotherapists in Amputee Rehabilitation (BACPAR), November 2012)

Em Diabetes:

Na sua competência específica, os fisioterapeutas prescrevem e implementam exercício terapêutico, individualmente ou em grupo, a pessoas em risco de desenvolver ou já com o diagnóstico da Diabetes Tipo 2 (DT2). Programas de exercício estruturado e supervisionado por fisioterapeutas, com duração de pelo menos 12 semanas, reduzem significativamente os níveis de glicose no sangue, podendo estes programas apresentar diferentes componentes.

(Fonte: Hoffmann et al. (2016) Prescribing exercise interventions for patients with chronic conditions. Review. CMAJ)

2 de maio de 2018

Associação Portuguesa de Fisioterapeutas

Entrar na Área Reservada
Acesso à Área Reservada

Por favor indique o seu número de Associado e o seu NIF.