A fisioterapia ajuda as pessoas com dor crónica a desenvolver as competências que necessitam para gerir a sua condição, aumentar a sua atividade e melhorar a sua qualidade de vida.
A dor crónica, persistente ou de longo prazo é uma dor que continua por mais de 3 meses. Geralmente é definida como uma dor que persiste para além do tempo normal de cura dos tecidos após uma lesão.
A dor aguda pode funcionar como um alerta para uma possível lesão e surge tipicamente de forma súbita como resultado de um incidente específico, como uma cirurgia, parto, fratura ou trauma. Por vezes, a dor persiste em resposta ao aumento da sensibilidade a todas as possíveis ameaças de dano, apesar da ausência de qualquer lesão, levando ao aparecimento da dor crónica.
A dor crónica não tem propósito biológico porque não está sempre associada a uma lesão, e pode ser considerada um estado de doença que pode persistir por meses ou anos. Ao longo do tempo, a dor pode afetar negativamente a funcionalidade, incluindo a capacidade de trabalho, os padrões de sono e pode ter ainda um efeito negativo nas relações familiares e de amizade. É um fenómeno que pode afetar qualquer parte do corpo, e pessoas de todas as idades, incluindo crianças.
A sua correta avaliação e valorização são fundamentais para o sucesso da intervenção da Fisioterapia. No entanto, esta avaliação precisa não é tarefa fácil já que a carga de subjetividade individual condiciona a forma como é percecionada, sentida, valorizada e transmitida de pessoa para pessoa, para além de eventuais dificuldades de comunicação, frequentemente associadas a patologias neuromotoras, quer em adultos quer em crianças.
As causas de dor crónica nem sempre são claras. As principais fontes de dor crónica são a dor lombar, a dor cervical e torácica, a artrite reumatoide, a osteoporose, a dor no ombro, a dor de cabeça, o cancro e a fibromialgia. Na população pediátrica a dor crónica é também uma realidade apresentando maior incidência em crianças/jovens com disfunções neuromotoras ou do foro reumatológico.
Pensa-se que a dor crónica poderá estar relacionada com alterações na forma como os sinais nociceptivos são transmitidos ao longo dos nervos e com a incapacidade do cérebro em compreender esses sinais corretamente. A parte do cérebro relacionada com as emoções também está relacionada com a dor crónica, ou seja, a dor pode modular as emoções e as emoções podem modular a dor. Se estivermos zangados, deprimidos, ansiosos ou com medo, podemos sentir mais dor. Por outro lado, se estivermos felizes, com uma atitude positiva, podemos experienciar menos dor e teremos maior capacidade de gerir o problema.
A dor também é influenciada pelas nossas crenças. Pessoas com crenças negativas sobre a sua dor relatam níveis mais elevados de intensidade de dor e incapacidade, e pessoas com crenças positivas de dor têm atitudes que influenciam positivamente o prognóstico.
As pessoas com dor musculoesquelética vêem frequentemente o seu corpo como sendo uma estrutura frágil ou vulnerável que é fácil de lesionar, algo que está longe da realidade. As pessoas que atribuem a sua dor a uma causa estrutural são mais propensas a ter níveis mais altos de incapacidade e baixas expectativas de recuperação.
Para muitas pessoas, a dor crónica torna a vida mais difícil, gerando comportamentos de medo, evitamento e fuga das atividades diárias.
A fisioterapia é efetiva no tratamento e redução da dor crónica e pode ajudar as pessoas com dor crónica a desenvolver as competências que necessitam para gerir e assumir o controlo da sua condição, aumentar a sua atividade física e melhorar a qualidade de vida. Os fisioterapeutas trabalham com as pessoas para as ajudar a controlar a dor usando várias ferramentas, incluindo educação sobre a dor, estratégias de adaptação, resolução de problemas, exposição gradual ao exercício, higiene do sono e relaxamento.
O exercício é o componente chave da intervenção, está incluído em todas as normas de orientação clínica, e os fisioterapeutas possuem competências únicas para recomendar programas de exercício específicos. Esses programas trarão benefícios a nível da mobilidade, da saúde cardiovascular, da força, do humor e bem-estar geral, ajudando a controlar a dor, a aumentar a confiança para participar nas atividades do dia-a-dia e a assumir o controlo da sua vida e a reduzir o seu medo.
Em suma, quando procurar um fisioterapeuta ele irá:
Mantenha-se ativo(a). Atividades simples como andar, nadar, dançar, entre outras, podem aumentar o bem-estar geral das pessoas com dor crónica. O exercício estimula a produção das substâncias analgésicas naturais, produzidas pelo organismo, reduz a rigidez dos músculos e articulações, entre outros benefícios gerais para o seu corpo.
Confie no seu corpo. O seu corpo é forte, robusto e está preparado para as exigências do dia-a-dia. O movimento torna o seu corpo forte e saudável e, mesmo com dor, deve explorar condições para voltar a mover-se gradualmente.
Aprenda a relaxar. Se doer, tente relaxar, respire e mova-se com naturalidade. Se tem dificuldades em relaxar fale com o seu fisioterapeuta para que este possa indicar como e onde aprender técnicas de relaxamento.
Não se foque na dor. Distraia-se da dor com atividades que lhe trazem prazer. Vários passatempos podem ser feitos, mesmo em fases de exacerbação da dor, como fotografia ou costura.
Tente dormir bem. A probabilidade de uma boa noite de descanso aumenta se estabelecer rotinas relativamente à hora de deitar e de acordar e se evitar sestas durante o dia. Se os problemas se mantiverem procure a ajuda de um profissional de saúde.
Não se isole. Mantenha-se em contacto com a família e amigos. Se estiver numa fase em que a dor piorou faça visitas mais curtas, mas saia de casa. Se não conseguir sair de casa, telefone a familiares e/ou a um(a) amigo(a) e convide-os para um café em sua casa. Falem de tudo, menos da dor.
Não. Embora uma radiografia, tomografia computadorizada, ou ressonância magnética possam ocasionalmente ser úteis, achados como degeneração discal, artroses, protuberâncias e fissuras discais são comuns na população sem dor e não são necessariamente o motivo da sua dor.
Não. O nível de dor experienciado é frequentemente um mau indicador de lesão ou dano no corpo. Mesmo que uma atividade seja dolorosa, não significa que esteja a causar dano. Um fisioterapeuta pode ajudá-lo a desenvolver um programa para que possa mover-se de forma segura.
Não. Poderá ser doloroso dobrar-se e levantar cargas com dor nas costas, mas melhorar a mobilidade e a força para essas atividades é importante. Vários tipos de exercício, incluindo treino com pesos, podem trazer grandes benefícios e deve explorar condições de voltar a fazer essas atividades gradualmente.
Não. Voltar ao movimento e ao trabalho é melhor para a recuperação e para prevenir novos episódios do que o repouso no leito. A imobilidade e o repouso no leito por mais de dois dias nunca demonstraram ser benéficos.
Não. A cirurgia e procedimentos invasivos têm um papel muito limitado, se é que têm algum, na gestão da dor lombar. Apenas cerca de 1-5% dos casos de dor lombar são causados por doença ou lesão grave.
Não. As pessoas que catastrofizam sobre o significado da dor ficam presas num círculo vicioso de comportamentos de evitamento do movimento pela dor, aumento da intensidade da dor e incapacidade. Um fisioterapeuta pode ajudar a interpretar a dor e usar o exercício para quebrar este círculo vicioso e reduzir a dor.