11 Junho, 2018
A convite do Partido Socialista – Madeira, a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APFISIO) esteve presente na I Convenção dos Estados Gerais do PS-Madeira, participando na Mesa de Debate subordinada ao tema “Presente e Futuro do Sistema Regional de Saúde”. A moderação dessa mesa esteve a cargo do Dr. António Pedro Freitas, presidente do Conselho Regional da Madeira da Ordem dos Médicos que contou com a participação de representantes de um número alargado de profissões de saúde, sindicatos, representantes de doentes e público em geral.
Foram identificadas algumas limitações no funcionamento do Sistema de Saúde da Região Autónoma da Madeira (RAM) e apresentadas algumas ideias para melhorar aquele Sistema.
Emanuel Vital usou da palavra referindo que o planeamento em saúde deve considerar o perfil de saúde da população, os seus determinantes de saúde, caraterísticas sociodemográficas e recursos disponíveis. Foram apresentados dados daquela Região, designadamente da obesidade e do comportamento associado de sedentarismo e hábitos alimentares. Foi lembrada a iniciativa da Organização Mundial de Saúde que teve lugar em 4 de junho, em Lisboa, com o lançamento do Plano Global para a Promoção da Atividade Física. Foi referido o papel do fisioterapeuta não apenas como um agente facilitador dessa mudança comportamental, mas, principalmente, como o profissional de saúde melhor posicionado para garantir uma prática de atividade física mais inclusiva para as pessoas com limitação funcional.
Foi referida a evolução sociodemográfica, a problemática do envelhecimento da população, e a preponderância que assumem as doenças crónicas não transmissíveis que condicionam perda da mobilidade e funcionalidade e aumento de consumo dos cuidados de saúde. Emanuel Vital fez notar que, se por um lado, Portugal apresenta dos melhores registos mundiais em alguns indicadores de saúde, tem, por outro lado, fracos indicadores de vida saudável após os 65 anos. Foram partilhados ainda os dados do Relatório do Comité Económico da EU, de 2006, que estabelecia uma relação muito forte entre a capacidade funcional da população idosa e os gastos em saúde; concretamente, se a evolução esperada do aumento da esperança de vida fosse acompanhada, na mesma proporção, por uma melhoria da funcionalidade, seria de prever uma poupança de gastos em saúde em cerca de 40%. Foi referido o papel central do fisioterapeuta no processo da melhoria da capacidade funcional e da mobilidade.
A propósito da capacidade de recursos instalada Emanuel Vital apresentou os dados relativos aos Recursos Humanos da RAM e comparou-os com os da ARS do Centro, sugerindo que uma possibilidade melhoria da eficiência do sistema poderia passar por uma mais adequada gestão de recursos, melhor eficiência da comunicação e partilha de informação clínica. Foi referido que o Fator Humano é decisivo nas organizações e é preciso acautelar os fatores que influenciam fortemente satisfação profissional, designadamente, a realização profissional, as condições de trabalho e a remuneração.
Emanuel Vital corroborou a informação do Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos (OM) sobre a qualidade da formação dos profissionais de saúde, referindo que o mesmo se passa na Fisioterapia, sendo inclusive uma das cinco profissões com cartão europeu de mobilidade. O presidente da APFISIO indicou que os fisioterapeutas portugueses são reconhecidos pela sua qualidade, mas logo chamou a atenção que não desejamos ser tratados como se fossemos “superbons”, especiais, ou que nos colocassem no pedestal e explicou porquê: referiu que no SNS é habitual que um doente tenha 3 consultas médicas antes de chegar ao Fisio (Médico de Família, Medico Especialidade – ortopedia, pneumologia, neurologia, pediatria, etc. – e médico fisiatra). Esta é uma realidade que retrata a ineficiência do sistema e perante a qual o contribuinte não pode estar satisfeito por ter de suportar esta despesa. A este propósito foram dados exemplos em que, na Inglaterra, ao nível dos Cuidados de Saúde Primários, e para algumas condições, o utente acede ao médico de família após referenciação do Fisioterapeuta. Foi ainda referido oi exemplo da realidade australiana e a melhoria de eficiência dos serviços de urgência que dispõem de fisioterapeutas para as condições musculosqueléticas. Foi referida a importância da articulação interprofissional para o desenvolvimento daqueles modelos de intervenção, e a necessidade de aprofundar o trabalho de equipa.
Emanuel Vital falou da importância destes momentos de debate e da necessidade de se refletir sobre como chegámos até aqui e o que queremos para o futuro. Os constrangimentos que o SNS sofre agora resultam, em larga medida, de opções políticas e sociais que condicionaram os comportamentos da sociedade. Os consumos, o sedentarismo e o stress, entre outros, são responsáveis por muitas condições de saúde que requerem agora cuidados diferenciados. Sublinhou, por isso, que era necessário fazer um pacto de saúde, referindo-se às conclusões da Convenção Nacional de Saúde que ocorreu nos dias anteriores, em Lisboa. Foi proposta uma mudança de paradigma na saúde, já defendido pela OMS em 2008, privilegiando-se uma abordagem salutogénica e de promoção da saúde. Neste sentido, foi defendido o conceito de “Saúde em todas as políticas” envolvendo todos os setores, privado, público, social e o poder local.
Depois do debate houve a oportunidade de estabelecer um contato mais próximo com o Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos, que se mostrou-se aberto e recetivo para se aprofundar a comunicação entre a OM e a APFISIO.
P.S.: A APFISIO agradece à Fta. Matilde Andrade as condições disponibilizadas para garantir a nossa participação neste evento
Emanuel Vital, 10-junho-2018
Fig.1 – Dr. António Pedro Freitas, moderador do debate, usando da palavra.
Fig. 2 – Aspeto do debate que contou com participação alargada de várias profissões e do presidente da APFISIO, Emanuel Vital.